quinta-feira, 4 de junho de 2015

Historias da vida ! (Fonte Glamour Brasil)

"Meu noivo terminou comigo por telefone durante o meu tratamento contra o câncer"

Conheça a história da produtora de moda Karen Martinelli, que venceu um câncer, superou o fim de um noivado e hoje ajuda mulheres que estão na mesma situação

Karen Martinelli (Foto: Arquivo Pessoal)

Meu nome é Karen Martinelli, sou paulistana e tenho 30 anos. Aos 27 anos, eu trabalhava como produtora de moda e estava indo muito bem na profissão. Do nada, comecei a ter febre todos os dias à noite. Tentei descobrir o que era, mas os médicos não encontravam nada. Um dia, senti um carocinho no meu pescoço e mostrei pra minha irmã mais velha, que é médica. Ela me orientou a procurar um hospital imediatamente. Imagino que, naquele momento, ela já sabia que podia ser algum tipo de linfoma.
Nesta época, eu namorava fazia um ano e meio e estava muito, muito feliz. Ele havia me pedido em casamento e a gente ia comemorar com uma festona de noivado dentro de 15 dias. Todos já estavam convidados e tudo estava certo. Nosso plano era casar dentro de um ano. Sim, eu imaginava que estava diante do homem da minha vida, alguém em quem eu poderia confiar e me apoiar em todos os momentos. Não foi bem assim.

Fui internada e diagnosticada com Linfoma de Hodgkin em estágio avançado. Fiquei anestesiada, eu não sabia o que viria pela frente. Pensei em adiar a festa, mas o meu noivo não quis. Ele chorou muito quando soube da minha doença, mas disse que sairia tudo como tínhamos planejado, que nossa vida não ia mudar. Pedi pra começar o tratamento só depois da festa. Não queria estar sem cabelos na comemoração, meu cabelão era o meu xodó, sabe? Cuidar das madeixas era a minha maior vaidade.
                   
Karen Martinelli (Foto: Arquivo Pessoal)
Confesso que me senti um pouco anestesiada durante a festa, mas foi tudo foi perfeito. Ainda assim, era muita coisa acontecendo, eu tinha feito uma cirurgia no pescoço pra fazer uma biopsia do caroço e estava ali, no que deveria ser um dos dias mais felizes da minha vida. Três dias antes do Natal, fiz a minha primeira sessão de quimioterapia. Meus pais e meu noivo me acompanharam. Ele foi comigo nas primeiras quatro sessões. Eu mal sabia que a minha vida estava prestes a mudar.

Comecei a sofrer muito com os efeitos colaterais do tratamento, febre, enjoos, dores no corpo e muito cansaço. Um vez eu e o meu noivo marcamos de sair no sábado, mas eu não consegui, estava péssima. Acho que foi naquele dia, que ele se tocou que a nossa relação não seria a mesma enquanto eu estivesse doente. A minha mãe me dava uma força enorme, mas, por outro lado, tive que separar as minhas amizades. Havia o grupo dos que não se importavam, o dos que não sabiam lidar comigo e aqueles que estavam ali pro que eu precisasse.

Um dia, recebi um telefonema do meu noivo. Ele estava com uma voz supercalma e me disse: "Ká, é melhor você seguir o seu caminho. E eu, o meu." Acredita? Foi assim que ele terminou comigo. Fiquei arrasada, eu já estava fraca, só tinha vontade de chorar e desistir de tudo. Foi quando a minha médica me disse que o câncer ia adorar me ver daquele jeito e que, se eu quisesse viver, tinha que começar a reagir. Pensei e decidi que nem a doença nem a tristeza iam me vencer.

Foram oito longos meses de quimio e mais 24 sessões de radioterapia, que me deixaram com manchas na pele e cicatrizes no tórax até hoje. Durante o tratamento, abri o blog Minha Vitrine, era minha maneira de continuar antenada na moda e nas tendências de make, além de me manter ocupada e ativa em meio a tudo isso.
                 
Karen Martinelli (Foto: Arquivo Pessoal)
Quando já estava retomando a minha vida, meu ex me procurou querendo voltar. Ele disse que se arrependia do que tinha feito, que não devia ter me largado enquanto eu estava doente. Entendi que se ele tinha virado meu ex naquela época tão difícil pra mim, não tinha razão nenhuma pra voltar e cortei relações com ele.

Tempos depois, recebo a pior notícia do mundo, o meu câncer estava de volta. Encontraram um tumor no meu peito e a única possibilidade de cura era fazer um transplante de medula óssea. Eu sentia que não tinha mais forças pra enfrentar tudo aquilo. Fiquei completamente sem chão. Sinceramente, pensei que dessa vez ia morrer. Foi muito pior do que no primeiro diagnóstico, quando eu não sabia a barra que era o tratamento contra o câncer e a minha referência da doença era o que eu via nas novelas.

Pedi muita força a Deus. Comecei a fazer sessões de quimio fortíssimas que levavam dias, e sentia a vida balançar dentro de mim. Veio uma esperança, descobriram que eu poderia ser a minha própria doadora de medula e colheram uma quantidade que deu pro meu transplante e ainda sobrou pro banco de medulas. Precisei me internar num quarto completamente isolado, recebia altas doses de medicação e engordei 20kg só nesses primeiros dias! Tive trombose e todo o meu cabelo caiu. Recebi a medula e rezava todo o tempo pra que desse tudo certo.
                  
Karen Martinelli (Foto: Arquivo Pessoal)
Nove dias depois, meu corpo reagiu e a medula pegou! Nunca senti uma alegria tão grande. Minha mãe e as enfermeiras fizeram a maior festa. Ao todo foram 40 dias de internação e mais cem dias de recuperação em casa, foi um período terrível. Passei muito tempo sem nem conseguir falar de tudo isso. Só agora consigo lembrar de tudo que eu passei sem chorar, sabe?

Hoje, tenho uma vida normal. Ainda tenho um cateter no tórax, mas que deve ser retirado em breve. Estou me cuidando pra perder todos os quilos que ganhei por causa dos remédios, já emagreci 14 quilos, mas quero mais. Acabo de completar um ano de transplante e estou melhor do que nunca. Mudei completamente, sou uma pessoa mais forte e decidida. Estou solteira, mas sei que, quando tiver alguém do meu lado, vai ser pra valer. 

Pra retribuir o que Deus me deu, criei o Projeto do Rei, que auxilia mulheres com câncer. Na primeira quimio, as pacientes recebem um kit com um lenço, um cosmético e um livro motivacional. Também faço palestras em que dou dicas de moda e maquiagem pra quem está se tratando. Também conto a minha experiência. É emocionante ver que hoje sou capaz de ajudar pessoas que estão passando pelo mesmo que eu passei. Sai de tudo isso como uma pessoa bem melhor e que sabe valorizar o que realmente importa na vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário